sábado, 28 de maio de 2011

Cálice







Pai, Afasta de mim esse cálice...
Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue...


Como beber dessa bebida amarga?
Tragar a dor e engolir a labuta?
Mesmo calada a boca resta o peito.
Silêncio, na cidade não se escuta.

De que me vale ser filho da santa?!
Melhor seria ser filho da outra...
Outra realidade menos morta.
Tanta mentira, tanta força bruta.


Como é difícil acordar calado,
Se na calada da noite eu me dano.
Quero lançar um grito desumano!
Que é uma maneira de ser escutado...

Esse silêncio todo me atordoa...
Atordoado eu permaneço atento,
Na arquibancada, prá a qualquer momento
Ver emergir o monstro da lagoa.

De muito gorda a porca já não anda,
De muito usada a faca já não corta.
Como é difícil, Pai, abrir a porta...
Com essa palavra presa na garganta...

Esse pileque homérico no mundo...
De que adianta ter boa vontade??
Mesmo calado o peito resta a cuca
Dos bêbados do centro da cidade.


Talvez o mundo não seja pequeno,
Nem seja a vida um fato consumado...
Quero inventar o meu próprio pecado,
Quero morrer do meu próprio veneno.

Quero perder de vez tua cabeça! (Cálice)
Minha cabeça perder teu juízo. (Cáli-ce)
Quero cheirar fumaça de óleo diesel. (Cali-se)
Me embriagar até que alguém me esqueça. (Cale-se!)

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