quinta-feira, 19 de maio de 2011

Buriti

Trás noite, trás noite, o mundo perdeu suas paredes.
Fere um grilo, serrazim.

Silêncio.

E os insetos, são milhões.

O mato – vozinha mansa – aeiouava.
Do outro mato, os respondidos.
Um peixe espiririca, um trapejo de remo.
Um gemido de rã.
O seriado túi-túi dos paturis e maçaricos, nos piris do alagoado.

Nunca há silêncio.

As ramas do mato, um vento, galho grande rangente.

As árvores querem repetir o que de dia disseram as pessoas.

Frulho de pássaro arrevoando – decerto temeu ser atacado...

No silêncio, nunca há silêncio.

Se assoviaram e insultaram os macacos, eles se abraçam com frio.
Tiniram dentes.
Reto voa o notibó, e pousa.
O chororocar dos macucos, nas noites moitas, os nhambus que balbuciam tremulantes.

Se a pausa é maior, as formigas picam folhas;
e as formigas que moram em árvores.

Uma coruja miou, gosmenta.
A coruja quer colóquio.
Sapos se jogam de sua velha pele. Esses são feiticeiros.

O vento muda é para se benzer em cruz.
Há um silêncio, mas que muitos roem, ele se desgasta pelas beiras, como laje de gelo.


Mas se o senhor quiser ouvir só o vento, só o vento, ouve.
Cada um escuta separado o que quer.

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